O fotógrafo pernambucano radicado na Paraíba, Allan Luna, está expondo seu trabalho em Montevidéu, no Uruguai, através do edital "Arte na Bagagem" realizado pela Secretaria de Cultura do Estado da Paraíba. A mostra, que ocupa a Casa de la Cultura Afrouruguaya, reúne imagens produzidas entre os anos 2015 e 2019 durante o tradicional evento "Kipupa Malunguinho" – Encontro Nacional de Juremeiras e Juremeiros.
Em Montevidéu, a obra de Allan Luna permanece exposta de 19 de setembro até 05 de outubro. A exposição já esteve presente em galerias na Paraíba, durante o Festival de Artes Jackson do Pandeiro (FUNESC, 2019) e no XVII Salão Municipal de Artes Plásticas – SAMAP (FUNJOPE, 2022), e em Pernambuco, no 31º Festival de Inverno de Garanhuns (FUNDARPE, 2023) e em duas edições do Festival Pernambuco Meu País (FUNDARPE, 2024 e 2025).
A série fotográfica documenta a força e a beleza da celebração do "Kipupa Malunguinho", que acontece nas matas onde existiu o Quilombo do Catucá, numa faixa que compreendia o litoral norte de Pernambuco e o sul da Paraíba, durante o século XIX. Mais do que registros visuais, as imagens revelam memórias de resistência e espiritualidade que unem os povos de matriz africana e indígena, numa celebração da tradição da Jurema Sagrada, considerada a prática religiosa mais antiga do Brasil.
No idioma kimbundu, Kipupa significa união, associação de pessoas em torno de um objetivo; Malungo, se traduz como “companheiro” ou “amigo”, e assim se tratavam as pessoas forçadas a vir para estas terras no mesmo navio negreiro. Malunguinho, hoje entidade presente do culto da Jurema Sagrada, era um título dado aos líderes quilombolas que resistiram nas matas do Catucá e que tiveram histórica contribuição na luta por reforma agrária e pela liberdade do povo negro e indígena.
"Com esta da circulação da exposição, busca-se disseminar a temática trazendo um pouco mais de visibilidade a uma tradição que, apesar de séculos de perseguição, continua viva e resiste com um profundo senso de comunidade, pertencimento e ancestralidade", destaca Allan Luna.
A ida da exposição a Montevidéu também propõe a construção de um diálogo entre o Brasil e o Uruguai, fortalecendo vínculos históricos e culturais entre as comunidades afro-brasileira e afro-uruguaia e chamando atenção para desafios comuns na luta contra o racismo religioso e em favor da igualdade racial. Em Encantados, os registros almejam promover esse debate, contribuindo com novos e urgentes processos educativos de cidadania e de respeito étnico-racial.
"Espera-se, com a exibição de Encantados na Casa de la Cultura Afrouruguaya, impactos no que se refere à ampliação da visibilidade do povo juremeiro e de seus terreiros, lugares de práticas sagradas tão presentes em território paraibano, fomentando quebras de estereótipos sobre esse povo, bem como combatendo inaceitáveis manifestações de intolerância religiosa, que perseguem esta e outras tradições afro-indígenas, e que ainda, infelizmente, se fazem muito presentes tanto na Paraíba quando no Uruguai", concluiu.
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