Ao longo dos últimos anos, João Pessoa vem se consolidando como um dos principais exemplos no Brasil de cidades que vislumbram a conciliação entre crescimento urbano e preservação ambiental. Numa época em que o adensamento populacional e a expansão das bordas urbanas significam perda de vegetação nativa, a capital paraibana parece buscar, ainda que com tensões, um caminho de equilíbrio.
De acordo com a Semam (Secretaria Municipal do Meio Ambiente), a cidade detém 47,11 m² de área verde por habitante — um índice que supera com folga o mínimo de 12m² recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) —, sendo a zona sul a área mais arborizada, constituída de bairros como Cuiá, Bancários, Geisel, Mangabeira e Valentina de Figueiredo.
A requalificação de parques urbanos no perímetro da cidade integra uma estratégia de governo de certa forma atenta ao conforto da população pessoense, ao passo que também falha na implementação de dinâmicas ecológicas que garantam, por exemplo, plantio de espécies nativas em larga escala e, como consequência, conforto ambiental, uma vez que já se sabe que arborização reduz temperaturas, gera sombra e preserva a fauna local.

A ferocidade do avanço imobiliário revela as fragilidades do processo de expansão da cidade. Projetos de grande porte, como o Polo Turístico do Cabo Branco, por exemplo, evidenciam os riscos da expansão desordenada. A supressão de quase 50 hectares de Mata Atlântica nativa, fundamental para a estabilidade ambiental da região, tem gerado problemas que ameaçam a biodiversidade e criam novos vazios ecológicos. Esse tipo de intervenção, sem um planejamento urbano pautado pelo respeito à natureza e à conectividade das áreas verdes, compromete não só o meio ambiente, mas a própria vitalidade da cidade e de quem a habita, sejam animais humanos ou não-humanos.

O urbanismo contemporâneo aponta para a necessidade de cidades mais eficientes ecologicamente. Em João Pessoa, propostas de corredores verdes, como nas Três Ruas (Bancários), a recuperação de margens de rios urbanos e a adoção de incentivos fiscais para imóveis sustentáveis — como o IPTU Verde — despontam como estratégias para manter a expansão sob controle, ou melhor, reduzir seu impacto, ao mesmo tempo em que se tenta preservar os valores naturais da cidade.
Para nós, profissionais da construção civil, João Pessoa se apresenta como um laboratório vivo: um território em que o desenho urbano tem o dever de integrar infraestrutura, natureza e identidade cultural. A manutenção e a ampliação das áreas verdes, mais do que parte da política ambiental, deve ser diretriz de planejamento urbano, capaz de moldar a experiência cotidiana de seus habitantes e aculturar-se ao estilo de vida do cidadão, traduzindo-se em respeito individual e coletivo ao meio.
O desafio é grande: garantir que a João Pessoa do futuro seja uma cidade onde o crescimento territorial não signifique seu esvaziamento ambiental, mas a construção de uma paisagem urbana mais saudável, inclusiva e sustentável. O urbanismo que emerge desta leitura é aquele que reconhece o verde não como adorno, mas como elemento vital para a cidade que se pretende, mais do que nunca, que viva.
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