Fujo hoje do nosso assunto semanal para falar um pouco de carnaval, afinal ninguém é de ferro, né? Além de me considerar um folião à moda antiga.
Contarei minha experiencia de 18 anos passados num dos blocos mais tradicionais da capital paraibana vivenciadas entre 1979 a 1996. BLOCO DOS MORCEGOS.
E para ser fiel a essa história sem se alongar muito nada melhor que interpretar o Hino dos Morcegos composto por Lula/Binha (ambos integrantes fundadores do bloco), imortalizado no LP lançado pelo Projeto Folia de Rua em 1994 e muito bem interpretado por Jairo Madruga.
Então, vamos ao hino:
“Vem de lá, vem de lá. Ei!
Vem do reduto dos Morcegos, vem de lá!” (2x)
Aqui anunciamos a chegada do carnaval, os preparativos para a semana momesca, o planejamento do nosso carnaval, gerando expectativas aos foliões que nos acompanha.
“Acorda, levanta moçada
Carnaval já vai começar
São Os Morcegos com muita animação
Em cima do Caminhão.”
Chamamos aqui todos os foliões para entrarem no ritmo de carnaval, sendo o primeiro bloco a desfilar pelas ruas de João Pessoa utilizando miniestrutura de trio-elétrico com instrumentos sonorizados a exemplo da guitarra elétrica baiana (idealizada por Dodô e Osmar). Fomos o primeiro bloco a tocar axé e a trazer para a Paraíba a música de uma banda nova surgida na Bahia que tinha um nome esquisito: Chiclete com Banana,
Com um detalhe: Nossa primeira guitarra baiana foi produzida pelo nosso primeiro guitarrista – Thadeu Vieira de Melo.
O Caminhão em questão é um Chevrolet ano 1942 carinhosamente apelidado de Trincão, que serviu (segundo a lenda) na 2ª Guerra Mundial.
“Nasceram no centro de João Pessoa
E nas praias foram parar
Praia Formosa, Cabo Branco e Pitimbu
Foram os primeiros em Tambaú.”
Antigamente nosso carnaval era baseado no desfile de blocos na rua Duque de Caxias, conhecido pelo nome de Corso, lá desfilavam todos os blocos da cidade, uma verdadeira festa carnavalesca.
No entanto, a cidade antiga começou a se desenvolver em direção às praias depois do advento das avenidas Epitácio Pessoa e Beira-Rio, assim também se foi o carnaval do centro. Os Morcegos seguiram o fluxo.
Marcamos época porque simplesmente não “passávamos” pela orla, nós desfilávamos arrastando pequenas multidões por isso fomos os primeiros (blocos) em Tambaú.
“Chupa, chupa, chupa, chupa-sangue
Os Morcegos são tradicionais
Já estão fazendo mais de 30 anos
De eternos carnavais.”
À época do lançamento do hino dos Morcegos em 1994 junto com o Projeto Folia de Rua, o bloco fundado na Rua da Areia, 284 em 1963 já tinha mais de 30 anos. Começou com os irmãos da família Peixoto e amigos, cujo primeiro carro do bloco foi um Jeep no ano de 1964. E não parou mais.
Inicialmente era uma batucada com todos os integrantes em cima da carroceria de um caminhão alugado. Até que um dia, meu pai, Marcos Peixoto convidou um amigo, Rafael, para sair no bloco, tendo seu nome aprovado. Sim! Tinha que ter o nome aprovado pelos líderes do bloco para ser admitido.
Ainda bem que foi aprovado! Rafael gostou tanto do bloco que ao saber que todo ano tínhamos que alugar um caminhão, não titubeou ao arrematar um caminhão antigo num leilão e doar para o bloco dos Morcegos, sendo logo apelidado de Trincão. O motivo do apelido? Ficará para outra ocasião... rsrsrs
“A turma é da pesada
Vem fazendo zum zum zum
Movido a muito chopp, gelo, coca-cola e rum.” (2x)
Aqui tem uma história que precisa ser explicada melhor. Quando se refere “a turma é da pesada”, é uma expressão utilizada muito à época para identificar uma turma, galera muito animada, pau pra toda obra (literalmente).
Mas, o mais engraçado aqui e que já li mais de uma vez em matérias assinadas por jornalistas ou admiradores do bloco, quando na última linha da estrofe ao falar do consumo de rum, imaginam que fazemos uma referência ao rum Bacardi, inclusive alguns escreverem que éramos patrocinados pela marca de rum! Porque no rótulo do rum Bacardi, existe a figura de um morcego...
Na verdade, o rum que tomávamos era o bom e velho rum Montilla! A tradicional garrafa marrom com gelo e Coca-Cola. Alias, como diz a letra tomávamos não só o rum e o Chopp, e sim o que a casa oferecesse de bebida.
Você não entendeu errado, o carnaval do bloco, antes do advento do Folia de Rua, era feito em visitas a casas pré-programadas e nosso “cachê” era NUNCA faltar bebidas. Tínhamos três, quatro casas por dia com bebidas diferentes oferecidas e com o tempo passamos a exigir no “cachê” preferencialmente a inclusão do rum! Mas, nunca fomos patrocinados pela Bacardi, nem pelo Montilla, se bem que merecíamos...
Em 1994 com o surgimento do Folia de Rua fomos convidados a participar e fizemos parte do projeto entre 1994-96, foram três anos muito corridos, gratificantes e muito cansativo também, além da participação no Folia de Rua, ainda mantivemos nossa saída nos dias de carnaval.
Em 1996 também foi meu ultimo ano no bloco, nesses dezoito anos de bloco aprendi a essência do verdadeiro carnaval e que ainda sinto falta até hoje.
Como diz o poeta: Já não se faz mais carnaval como antigamente.
VIVA O CARNAVAL!
Lembre-se: Ao sair para brincar carnaval, prefira os transportes alternativos, se esquentar o clima, use camisinha.
Bom carnaval a todos!
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